“Águas de março”: projeto se preocupa com tempo de acolhimento de crianças e adolescentes
Clássico da MPB, uma canção com quase 50 anos serve de inspiração para um projeto de sensível alcance social. Com esta visão, a Coordenadoria Estadual da Infância e da Juventude, que tem a frente o juiz José Dantas de Paiva, programa, para este mês de março, o lançamento de um projeto, cujo título faz alusão à música do compositor brasileiro Tom Jobim: “Águas de Março”, que compara o ciclo curto de chuvas com o período considerado ideal para os acolhimentos nas casas de abrigo: o mais breve possível.
“Quando “Tom Jobim” eternizou sua célebre canção em 1972,jamais imaginou que sua transcendência, por maior que fosse, adquirisse uma significação desta natureza, dentro da temática da Infância e da Juventude”, explicam os organizadores da iniciativa.
A ideia do programa, segundo a Coordenadoria, surgiu em virtude da identificação da possibilidade de melhorias que assegurassem um olhar humanizado e individualizado das crianças e adolescentes acolhidos, bem como o exercício da função regimental da CEIJ/RN de promover a articulação entre instituições de acolhimento e unidades judiciárias.
De acordo com o órgão, o programa é firmado em eixos basilares, que norteiam a metodologia e, após etapas como a do Mapeamento e monitoramento, vem a fase da Execução, que ocorre após a identificação das situações críticas, quando a equipe busca soluções para os casos mais delicados, estimulando adoções especiais, preparação para a adoção, bem como a amenização dos processos de desligamento da unidade de acolhimento.
Da preparação para o desligamento vem o nome do programa: “São as águas de março fechando o verão, é promessa de vida no teu coração”. A busca por um tempo curto nas unidades é, assim como na música, o meio pra devolver mais qualidade de vida para o então acolhido.
Segundo a CEIJ, como o acolhimento pode ter repercussões negativas sobre o processo de desenvolvimento dos acolhidos e compreendendo tais impactos, se faz necessário o engajamento para que crianças e adolescentes fiquem institucionalizados o menor tempo possível, respeitando-se a cautela que todo processo de avaliação de caso requer.
“É uma referência ao ciclo curto das águas de março, trazida na música. Entendemos que este tempo em acolhimento deve ser o menor possível, até um retorno à família de origem ou para a adoção”, reforça a psicóloga da CEIJ, Aline Falcão.
De acordo com o juiz José Dantas de Paiva, além das prevenções sanitárias e à saúde dos agentes públicos, servidores, funcionários e jurisdicionados, a pandemia do novo coronavírus (Covid-19) trouxe o desafio de acompanhar tais mudanças também junto ao sistema
socioeducativo e nas instituições de acolhimento.
“Não deixamos um só dia de exercer nossas atividades de suporte, monitoramento e articulação. No auge da pandemia, foram realizados diversos depoimentos especiais e o acompanhamento às instituições de acolhimento foi permanente”, analisa o magistrado. A data de lançamento da ação ainda será definida pelos coordenadores.
Sobre a canção
Sobre a música “Águas de Março” vale lembrar que ela foi lançada no disco de bolso “Tom de Jobim e o Tal de João Bosco”, em 1974. Neste mesmo ano, foi lançada a versão com o épico dueto entre o compositor e maestro com Elis Regina, eternizada no LP “Elis & Tom”. No ano subsequente, fez parte do álbum “Matita Perê”. Não faltou, ainda, uma versão em língua inglesa, também composta por Tom, na qual o autor manteve-se fiel ao sentido da canção.
Em 2001, o jornal Folha de S. Paulo elegeu a música como a melhor música brasileira de todos os tempos, na opinião de artistas, músicos e jornalistas. Em outra pesquisa, a edição brasileira da revista Rolling Stone apontou a canção, repleta de rimas bem articuladas e originais, em segundo lugar neste quesito, atrás apenas de “Construção”, de Chico Buarque de Hollanda.
FONTE: TJRN