Atenção pode prevenir o suicídio infantojuvenil
por Daphne Arvellos Dias -VIJ/DF
Estar atento às atitudes de crianças e adolescentes é a melhor maneira de prevenir o suicídio de crianças e adolescentes, pontua a supervisora da Seção de Fiscalização, Orientação e Acompanhamento de Entidades da Vara da Infância e da Juventude do Distrito Federal (SEFAE/VIJ-DF), Vânia Sibylla. Mesmo sendo um fenômeno complexo, sem explicações simplistas nem causas únicas, ele pode ser prevenido. O trabalho de conscientização é contínuo, mas reforçado no mês de setembro, quando o país tem instituído o Setembro Amarelo.
“Sinais depressivos devem ser respeitados. Aqueles que não interagem com outras pessoas de forma alguma, os agitados em demasia, os que dizem ‘não quero mais viver’, ‘quero morrer’, ‘minha vida não tem sentido’, ou algo semelhante”, pontua Vânia. Ela defende que esses indícios devem ser respeitados e compartilhados com profissionais terapêuticos e psiquiátricos. “Poderá haver componente bioquímico se manifestando e somente a terapia psicológica não alcançará o alívio da dor que esse cidadão busca encontrar dando fim à própria vida. Dando um fim à própria dor”, completa ela.
O Centro de Valorização da Vida (CVV), associação civil reconhecida como importante ator na prevenção ao suicídio, lista como formas de ajuda ao alcance de todos acolher sem criticar, conversar sem julgar, compreender os sentimentos daqueles que passam por momentos de tristeza, ansiedade, medo ou sensação de solidão no seu dia a dia. O Ministério da Saúde também lista quatro passos para ajudar uma pessoa sob risco de suicídio: conversar, acompanhar, buscar ajuda e proteger.
Não é coisa de gente grande
O primeiro relatório global da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o tema, divulgado em 2019, indicou que o suicídio é a segunda maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos no mundo. No DF, dados da Secretaria de Saúde indicam que ele é a quarta causa de morte na mesma faixa, computando 30 dos 78 óbitos por suicídio registrados até julho deste ano.
No sistema de acolhimento institucional de crianças e adolescentes do DF, casos de risco são comunicados à VIJ/DF e trabalhados por equipe multiprofissional. Eles demonstram que é possível obter sucesso com atenção focada em diferentes frentes. “Há casos que envolvem transtornos mentais, violência sexual e de outros gêneros, uso de substâncias psicoativas ou jovens que não têm sua identidade de gênero respeitada ou bem trabalhada internamente. Essas são os principais causas que temos observado como gatilho”.
Vânia Sibylla explica sobre a variedade de fatores que provocam a autoviolência. “Há diversas razões para crianças e adolescentes chegarem às instituições de acolhimento ou lá desenvolverem situações que os levem a automutilação. Na maioria das vezes, eles já vêm da família com esse adoecimento psíquico”. A assistente social explica que isso se dá em razão do contato dos jovens com situações de violência contra eles mesmos, contra pessoas de seu convívio ou no meio intrafamiliar. “A violência é tal que não conseguem desabafar, não sabem nomear. Soma-se a ela a própria situação de abandono a qual os jovens são submetidos”. Vânia ressalta que os transtornos mentais sem a devida assistência profissional estão entre as principais causas da automutilação .
Na mesma linha, o supervisor Reginaldo Torres, do Centro de Referência em Violência Sexual da VIJ-DF (CEREVS/VIJ), diz que é comum, no trabalho com a rede infantojuvenil, observar crianças e adolescentes com comportamentos de automutilação e, por vezes, ideações suicidas, ou seja, desejo de morrer. Segundo o supervisor, é preciso estar atento à identificação dos sinais e ofertar ajuda: “precisamos acolher e oferecer escuta para criança ou o adolescente. Esses comportamentos representam um grito de socorro ‘eu não aguento mais’, ‘está difícil para mim”, alerta Torres.
O supervisor diz que as marcas autoprovocadas no corpo podem expressar “um intenso sofrimento relacionado à ocorrência de violência grave dentro do ambiente familiar”. Nesse sentido, ele adverte: “Muitas vezes esses casos estão associados à violação de direito. A Justiça da Infância e da Juventude tem um papel importante, que é o de identificar a situação de risco que a criança pode estar vivenciando ou a partir do contato com seus pares e aplicar as medidas de proteção necessárias”.
Conforme Reginaldo, a Justiça Infantojuvenil pode determinar medidas protetivas, tais como a obrigação para que familiares frequentem tratamento, o afastamento de pessoa autora da violência que reside no mesmo lar da vítima, a colocação da criança sob guarda provisória aos cuidados de pessoa do núcleo familiar extenso ou, ainda, o acolhimento em instituição.
Como buscar ajuda?
A Secretaria de Saúde do DF disponibiliza no hotsite “Oi, Vida” contatos de emergência e para marcação de atendimentos de saúde. O espaço ainda oferece informações para prevenção, mensagens, palavras de apoio, desabafos, partindo do princípio fundamental da escuta para quem necessita de ajuda.
Centro de Valorização da Vida
O CVV realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar. A ligação para o CVV por meio do número 188 são gratuitas e podem ser feitas a partir de qualquer linha telefônica fixa ou celular.
Para conversar com o Centro de Valorização da Vida (CVV), ligue 188 ou acesse o site.
Também é possível conversar via chat, e-mail e Skype – www.cvv.org.br.
Se preferir, procure um posto de atendimento próximo: https://www.cvv.org.br/postos-de-atendimento/
SAMU
O Samu/DF presta atendimento pré-hospitalar móvel à população em casos de urgências. O serviço funciona 24 horas por dia e realiza o atendimento em qualquer lugar: residências, locais de trabalho e vias públicas. O socorro é feito após chamada gratuita para o telefone 192.
Para acionar o SAMU, ligue 192
Unidades Básicas de Saúde do DF
A UBS é a principal porta de entrada para a Rede de Atenção à Saúde do DF. O serviço é prestado presencialmente, com 50% das vagas agendadas e 50% de vagas abertas para as demandas consideradas emergenciais, para todos os moradores do DF.
Para saber qual é a unidade básica de saúde mais próxima da sua residência, ligue 160 ou consulte no mapa.
Centro de atenção psicossocial
Os Caps são pontos de atenção estratégicos da Rede de Atenção Psicossocial (Raps) que prestam serviços de saúde para a comunidade com uma equipe multiprofissional e realizam prioritariamente atendimento às pessoas com sofrimento ou transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas, em situações de crise ou nos processos de reabilitação psicossocial.
Para saber qual é o Caps mais próximo da sua residência e ver os números de contato clique aqui!
Falando direto com o público
Riscos no mundo digital – Instituições brasileiras têm se dedicado a ações que dialogam diretamente com o jovem sobre o tema da autoviolência. O Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio desenvolveu a cartilha “Prevenção do suicídio na Internet para Adolescentes”. O material lembra que o mundo virtual tem um potencial tanto agregador quanto prejudicial e traz muitos desafios. A cartilha fala sobre como prevenir a autoviolência no universo online e como evitar propagar conteúdo que possa causar riscos a outras pessoas. Além do tema central, traz assuntos da vida offline, como bullying, gravidez na adolescência, relacionamentos e uso de álcool e drogas, que podem ter repercussão em comportamentos online.
Acesse em: https://vitaalere.com.br/prevsuicidiointernetadolescentes/AF_cartilha_adolescentes_18_09.pdf
Cuidado desde cedo – A Secretaria de Justiça e Cidadania do Distrito Federal (Sejus) lançou a cartilha “A Turma do Sejuquinha no Setembro Amarelo”. Com uma linguagem adaptada ao público infantil, a revista em quadrinhos fala com os leitores sobre valorização da vida, amor próprio e bullying. Ele está disponível online e também terá distribuição gratuita nos Conselhos Tutelares do DF.
Acesse em: http://www.sejus.df.gov.br/wp-conteudo/uploads/2020/09/EMPDF.pdf
Conversa em família – A Secretaria Nacional da Juventude (SNJ), do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), lembra a importância do diálogo na prevenção, sobretudo no ambiente familiar. Dicas para ação no ambiente intrafamiliar são descritos em cartilha própria e trazem linguagem e formas de se chegar aos jovens.
Acesse em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/acolha-a-vida/cartilha_orientcao-familias-v0809.pdf