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Adoção tardia: conheça história de casal que driblou preconceito

Adoção tardia: conheça história de casal que driblou preconceito

Simone Kaminski e Wilson Carlos Rossi quebraram paradigma e resolveram adotar dois adolescentes

Na noite da véspera de Natal de 2021, a professora Simone Kaminski, 51 anos, chegava da missa para arrumar a ceia em casa, na cidade de Londrina (PR). Enquanto arranjava a mesa com os pratos que os convidados traziam, ela observava os dois filhos jogarem bola pela casa, enquanto, vez ou outra, vinham dar um beijo na mãe.

Foi aí que veio o estalo, em um daqueles momentos que a ficha cai: “Essa é a minha família. Aquela que sempre sonhei ter”, pensou.

Simone adotou Bruno, 18 anos, e Wallace, 15, em setembro de 2020. Na época os dois tinham, respectivamente, 16 e 14 anos de idade. Antes de tomar a decisão, porém, a professora conta que ela e o marido guardaram segredo de todos os familiares e amigos próximos.

“Nós sabíamos que ouviríamos muitas objeções por conta da idade dos meninos. Tanto é que, quando falamos sobre a adoção, muitas pessoas vieram falar ‘nossa, mas eles são muito velhos’, ou ‘vocês são muito corajosos’, ou ‘mas por que adotar os meninos adolescentes já?’”, disse.

O relato de Simone é reflexo direto do retrato da adoção no Brasil em 2022. De acordo com dados do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento, apenas 25% das 3346 crianças adotadas neste ano são maiores do que 12 anos, mesmo que esse grupo represente 2 ⁄ 3 das 4.269 pessoas aptas para adoção.

Em contrapartida, crianças entre 2 e 4 anos reúnem quase 50% daquelas que ganharam uma nova família.

“Existe esse mito de que o processo de adoção é burocrático e lento. Mas, na verdade, o que faz com que isso aconteça é o perfil de criança que os pais e as mães buscam”, explica Noeli Reback, juíza e presidenta do Colégio de Coordenadores da Infância e Juventude dos Tribunais de Justiça do Brasil.

No Brasil, depois de passar pelo processo que torna a pessoa apta para adotar, a família pode selecionar as características do filho que deseja. Isso inclui a cor de pele, o gênero, a localidade e, claro, a idade.

Depois de escolher, os requerentes entram em uma lista de espera por ordem de chegada, organizada de acordo com as preferências de cada adotante.

Como os filhos de Simone pertenciam a uma faixa etária menos concorrida, ela e o marido, Wilson Carlos Rossi, 57, levaram apenas 4 meses para ver os filhos dentro de casa. Em outros casos, o tempo de espera pode chegar a 6 anos.

“Nós havíamos pensado em adotar há muito tempo, depois de tentarmos engravidar naturalmente e por inseminação. Mas o meu marido disse que não aguentaria esperar por muito tempo, então acabamos desistindo, até ficarmos sabendo da história dos meus filhos por uma ligação”, relembra Simone.

Adoção de mais velhos cresce, mas intenção segue baixa

Comparado com os dados de 2020 e 2021, porém, as informações sobre adoção de crianças e jovens acima de 12 anos são positivas. Nos últimos dois anos, o grupo representou, respectivamente, 16% e 13%, das pessoas que ganharam um novo lar.

“Aos poucos, temos conseguido avançar na conscientização das pessoas. Os programas de apadrinhamento, por exemplo, aproximam esses jovens mais velhos nos abrigos do público externo, que passam a conhecer a realidade deles de fato. Afinal, o preconceito vem daquilo que não conhecemos”, destaca Reback.

A juíza lembra também do sistema de Busca Ativa Nacional, que, com fotos, vídeos e relatos das crianças aptas para adoção, permite aos adultos conhecerem melhor as histórias de cada uma e, assim, reduzir o julgamento prévio.

Ainda assim, há um longo caminho pela frente. Dos 32.657 pretendentes habilitados no Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento, apenas 1% informou ao sistema o interesse por crianças maiores de 12 anos.

Na visão de Reback, os números são reflexos de um “costume social” que permanece incrustado nos adotantes. “As pessoas idealizam esse filho, têm uma ideia romantizada da família dos sonhos. Mas o que eu falo sempre é que os pretendentes precisam ver a criança como uma cidadã portadora de direitos, não como um objeto a ser imaginado”, destaca.

Reback estima que, por conta da faixa etária, esses jovens fiquem nos abrigos entre 3 e 4 anos enquanto aguardam uma nova família, o que complica o processo. Afinal, quanto mais velha a criança, menor o índice de adoção.

“Os meus filhos já estavam na casa de acolhimento há 2 anos. Mas foi combinação à primeira vista. Eu e meu marido já estamos velhos também, sabe? Era a idade certa para os nossos filhos”, conta Simone.

A professora relembra que, independente da idade, é papel dos filhos trazer desafios e aprendizados para os pais. “As pessoas falam que adolescente tem uma série de problemas, tem uma história própria, mas todo pai e toda mãe vai passar por isso com o seu filho um dia. Se não isso, as fraldas do recém-nascido. Só muda o problema. Faz parte da vida”, diz.

Novo perfil de adotantes

A ligação que permitiu à Simone adotar os dois filhos só foi possível porque a vendedora Andreia Aparecida da Silva, 41 anos, compartilhou a história dos meninos com um grupo de amigas.

Andreia, inclusive, era uma das presentes no Natal de 2021, mas não por acaso. Ela é mãe adotiva de três meninos: Franchesco, 9, Carlos, 10, e Rhuan, 13. Todos eles são irmãos biológicos dos filhos de Simone.

“Quando adotei os meus meninos em 2020, conheci os outros irmãos que ainda estavam esperando uma nova família. Eu não tinha condições de levar todos para a minha casa, mas fiz questão de ajudar a encontrar alguém que pudesse”, conta Andreia, que também é mãe de Álvaro, 10, seu único filho biológico.

Mãe solo, a vendedora faz parte de um grupo menos tradicional que cresce entre os pretendes. Até agosto de 2022, homens e mulheres solteiras somaram 124 dos adotantes. Casais homoafetivos, por sua vez, contabilizaram 62 pessoas.

“Sempre reforço, nos cursos de adoção, que não existe perfil certo, orientação sexual, credo religioso, ou qualquer coisa que te impeça de ser pai ou mãe. O único pré-requisito é a disposição em ser o lar que essa criança merece”, reforça a juíza Noeli Reback.

“Quando os meninos chegaram, as coisas não estavam fáceis. Foi no meio da pandemia, e a economia não estava favorecendo”, conta Andreia. “Mas era como um parto pra mim. Quando a bolsa de uma gravidez estoura, ela estoura, não tem o que fazer. Eu sabia que era o momento de receber os meus filhos. Era minha bolsa estourando”.

Andreia e Simone já se organizam para passar o Natal deste ano juntas e reunir os cinco irmãos durante a data mais uma vez.

“Ver eles felizes, juntos, não tem preço. Sou uma pessoa totalmente realizada, independente de qualquer percalço que a gente precise passar para criar eles”, diz Andreia.

FONTE: Metrópoles

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